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Pai faz diferença na amamentação

Pesquisa mostra que mães sem parceiro têm tendência maior a usar leite artificial na alimentação de seus filhos

Sexta-feira, 12 de março de 2010


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São Paulo e Rio de Janeiro - Mães adultas e solteiras têm 5,3 vezes mais chances de abandonar precocemente o aleitamento materno exclusivo do que as mães com companheiro. Essa é uma das conclusões de um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), cujo objetivo era descobrir os motivos que levam à introdução de leite artificial e sua relação com fatores socioeconômicos.

A pesquisa, publicada na Revista Brasileira de Epidemio­logia, da Associação Brasileira de Pós-Gra­­duação em Saúde Coletiva (Abras­­co), avaliou as respostas de 1.057 mães atendidas em 27 unidades básicas de saúde do Rio de Janeiro.

Para Corintio Mariani Neto, presidente da Comissão Nacio­­nal de Aleitamento Materno da Fe­­deração Brasileira das Asso­­ciações de Ginecologia e Obste­­trícia (Febrasgo), a mãe solteira amamenta menos porque tem menos apoio para seguir as orientações sobre a prática – segundo ele, o principal suporte entre os familiares é o do companheiro.

“Sem um estímulo de outra pessoa para acordar no meio da noite e dar de mamar, pode ser mais difícil para a mãe solteira amamentar por mais tempo. Por isso, muitas acabam usando a mamadeira mais cedo", afirma Mariani Neto.

Outro fator que pode influenciar na desistência precoce do aleitamento materno é o fato de a maioria das mães solteiras precisar trabalhar. “Essa mãe geralmente trabalha fora, chega cansada em casa e ainda não tem ninguém para ajudar. As dificuldades são maiores", diz o obstetra.

Adolescentes

Já na comparação entre adolescentes solteiras e casadas, a pesquisa mostra que as mais jovens tendem a amamentar seus filhos por mais tempo. Segundo Luciano Borges Santiago, vice-presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Socie­­dade Brasileira de Pediatria, o companheiro pode atrapalhar no caso na amamentação da adolescente. “Geralmente, ela é mais insegura, está preocupada com o relacionamento e acha que a amamentação pode interferir na sua sexualidade", diz.

A brusca mudança na rotina das mães jovens é também um dos fatores para que as adolescentes casadas deixem de amamentar seus filhos mais cedo, de acordo com Roberta Niquini, pesquisadora da Fiocruz e uma das autoras do artigo. “De repente, elas têm uma criança e uma casa para cuidar. Como precisam administrar muitas coisas novas, acabam introduzindo o leite artificial precocemente", afirma.

Para Santiago, o estudo da Fiocruz mostra uma preocupação com o papel do pai na amamentação. Ele afirma que as pesquisas estão começando a analisar a interferência do companheiro nessas questões – e o relacionamento dos pais interfere na duração do aleitamento materno exclusivo.

A professora universitária Sandra Quarezemin, 29 anos, teve uma filha aos 17 e amamentou a menina por apenas dois meses. Na época, os médicos lhe disseram que a sua produção de leite era muito pequena. “Fiquei bem sentida, queria dar de mamar. Mas a relação com o pai dela estava conturbada, e acho que isso pode ter afetado a amamentação", diz

Segundo Mariani Neto, a orientação médica é essencial para que a mãe amamente por mais tempo. “Sem orientação, as mulheres partem logo para a mamadeira. Infelizmente, hoje as mães têm de ser convencidas de uma coisa que é natural."

 

Fonte: Folhapress

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